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Revolução nos negócios

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Revolução nos negócios

Tensão nos países árabes obriga empresas brasileiras, como Petrobras e Odebrecht, a paralisar atividades e resgatar funcionários.

Por Denize Bacoccina


Quando conseguiu o contrato para erguer o novo aeroporto internacional de Trípoli, na Líbia, há três anos, a construtora brasileira Odebrecht comemorou. Afinal, trata-se de uma encomenda de e 1,5 bilhão de euros, dividida com a turca Tepe Akfen e a grega CCC. 

Agora, perto de concluir a obra, a empresa teve que colocar em prática seu plano de contingência para retirar do país os cinco mil empregados estrangeiros, entre eles 187 brasileiros. 
 
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Protestos na Líbia: depois da Tunísia e do Egito, líbios protestam contra
o ditador Muamar Kadafi, há 41 anos no poder
 
Eles passaram a correr perigo diante das manifestações contra o ditador Muamar Kadafi, no poder há 41 anos, e até mesmo risco de vida com a forte repressão do governo contra elas. 
 
Depois de uma longa negociação, a empresa conseguiu, na quarta-feira 23, autorização para cinco voos partindo da capital líbia para retirar do país cerca de 100 funcionários brasileiros que ainda estavam no país. 
 
A Odebrecht não é a única empresa brasileira no meio dos conflitos na Líbia. Pelo menos duas outras construtoras, além da Petrobras, vivem a mesma situação. A Queiroz Galvão tem seis contratos com o governo e um total de 130 brasileiros trabalhando em obras públicas na região de Benghazi, justamente onde os protestos contra Kadafi foram mais intensos. 
 
Outra empreiteira brasileira, a Andrade Gutierrez, na Líbia há dois anos com obras de infraestrutura de água, esgoto, drenagem e pavimentação, emprega mais de 200 estrangeiros, dos quais 11 brasileiros. 
 
Os últimos quatro chegaram ao Brasil na quinta-feira 24. Um deles, o engenheiro José Geraldo disse ao desembarcar em São Paulo que, em Trípoli, onde estava, não chegou a ver confrontos. 
 
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Kadafi na tevê: o ditador anunciou na terça-feira 22 que prefere morrer como
mártir e acusa o Ocidente de querer controlar o petróleo da Líbia
 
E não descartou retornar à Líbia. “Eu voltaria”, disse ele às emissoras de tevê que o aguardavam. A Andrade Gutierrez ainda não calculou o prejuízo, mas paralisou temporariamente suas atividades na Líbia e não tem previsão de quando as obras serão retomadas. 
 
Com um bloco de exploração de petróleo no Mediterrâneo, em parceria com a australiana Oil Search Limited (OSL), a Petrobras tinha 20 funcionários no país, dos quais quatro brasileiros. Junto com familiares, eles deixaram a Líbia. 
 
Um plano de contingência para retirada do pessoal, especialmente os estrangeiros, é ou deveria ser obrigatório para empresas que atuam em países com risco político ou sujeitos a desastres naturais. 
 
“Da mesma maneira que se planeja o marketing, a contabilidade, a área jurídica, é preciso ter um plano de prevenção”, diz Ronaldo Marques, consultor de gerenciamento de crise. 
 
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Gabrielli, da Petrobras: "Não vamos alterar nossa política de preços,
não vamos repassar oscilações no curto prazo"
 
Em regiões de instabilidade política, diz Gerson Correia, sócio da Talent Solutions, empresa de recrutamento de executivos. “É fundamental mapear a situação política, as forças do governo e da oposição, ver quem tem possibilidade de assumir o poder e tentar atrair a simpatia de todos para o empreendimento.” 
 
Além de alterar a rotina das empresas instaladas no país, a crise na Líbia mexe com o mercado de petróleo. O país é o 15º maior produtor e a extração de 1,6 milhão de barris por dia caiu pela metade na semana passada. 
 
Na quinta-feira 24, governo e opositores disputavam o controle de poços de petróleo. O preço do barril do tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres, encostou emUS$ 120 na quinta-feira à tarde. 
 
A capacidade ociosa nos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) é estimada em 3,2 milhões de barris por dia, mas as refinarias que recebem petróleo da Líbia, no Mediterrâneo, teriam de importar óleo do Oriente Médio pelo Canal de Suez. 
 
O maior problema para os ditadores é o efeito cascata dessas manifestações, que já derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Hosni Mubarak. Na terça 22, Muamar Kadafi fez um longo discurso na tevê estatal dizendo que não deixaria o comando do país e ameaçou massacrar os manifestantes que estão contra seu governo. 
 
“Prefiro morrer como mártir”, disse ele. Mas os protestos pedindo maior abertura política e melhoria das condições de vida também atingem outros países da região. No mercado de petróleo, o temor é que elas levem instabilidade ao Barein. 
 
O país é pequeno, mas é vizinho da Arábia Saudita, maior exportador da Opep, com 8,4 milhões de barris ao dia e o único com capacidade para elevar rapidamente a produção. “Quem regula a demanda é a Arábia Saudita. 
 
Se os problemas chegarem ali e afetarem a produção será o caos no mundo do petróleo”, diz Alexandre Szklo, professor de Planejamento Energético da Coppe, o instituto de pesquisa em engenharia da UFRJ. 
 
Atento aos riscos, o rei Abdullah anunciou na quarta 23, um pacote de US$ 37 bilhões em benefícios à classe média saudita e um aumento de 15% nos salários do funcionalismo.
 
Uma alta forte do petróleo também pode afetar o crescimento da economia mundial, com impacto tanto nas economias ainda em recuperação da Europa quanto nos emergentes China e Índia, também dependentes de importação do produto. 
 
No Brasil, que é autossuficiente no volume total de petróleo e derivados, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, garantiu que os preços da gasolina no mercado interno não serão reajustados. 
 
“Não vamos alterar nossa política de preços, não vamos repassar oscilações no curto prazo”, disse ele na segunda 21. Mas há dois setores em que as consequências do aumento do preço internacional parecem inevitáveis: a aviação civil e a petroquímica.